Para tudo o que não há mais nada a dizer
Você tem algo a dizer?
Algo que torça os seus ombros?
Algo que te faça calar a boca?
Algo que afunde os teus pés como uma âncora?
As paredes de musgo continuam florescendo
E o relógio toca ao meio-dia
Flores da primavera crescem na janela
Fazendo inveja aos bem-te-vis e cegonhas
Pedregulhos no meio da estrada de terra
Lagartas de fogo espreguiçando seus corpos miúdos
No alto da torre
Carroças que vêm e voltam de algum lugar
E uma placa de boas-vindas pendurada na porta
Se você tem algo a dizer
Escreva na terra para que o vento sopre
Desenhe nas águas para que as palavras afundem
Sopre no ar para que ele leve embora
Instante
Eterno
Silêncio
Busca
Começo e fim do que vive em você
Nas entranhas de uma história de tendas sagradas
E dos sussurros que surgem junto com o agitar das águas do lago
Para quem tudo pode ser alcançado
Poema do livro “Átomos Desfeitos” (2023), publicado pela editora Minimalismos.